18 dezembro 2008

Carta de Despedida - Gabriel Garcia Márquez

“Se por um instante, Deus se esquecesse de que sou uma marioneta de trapo e me oferecesse mais um pouco de vida, não diria tudo o que penso mas pensaria tudo o que digo.

Daria valor às coisas, não pelo que valem, mas pelo que significam.

Dormiria pouco, sonharia mais, porque entendo que por cada minuto que fechamos os olhos perdemos sessenta segundos de luz. Andaria quando os outros param, acordaria quando os outros dormem. Ouviria quando os outros falam e como desfrutaria um bom gelado de chocolate !

Se Deus me oferecesse um pouco de vida,

vestir-me-ia de forma simples, deixando a descoberto não apenas o meu corpo, mas também a minha alma.

Meu Deus,

se eu tivesse um coração, escreveria o meu ódio sobre o gelo e esperava que nascesse o sol.

Pintaria com um sonho de Van Gogh sobre as estrelas de um poema de Benedetti e uma canção de Serrat seria a serenata que eu ofereceria à Lua!

Regaria as rosas com as minhas lágrimas para sentir a dor dos seus espinhos e o beijo encarnado das suas pétalas...

Meu Deus, se eu tivesse um pouco de vida... não deixaria passar um só instante sem dizer às pessoas de quem gosto que gosto delas.

Convenceria cada mulher ou homem que é o meu favorito e viveria apaixonado pelo amor..

Aos homens

provar-lhes-ia como estão equivocados ao pensar que deixam de se apaixonar quando envelhecem, sem saberem que envelhecem quando deixam de se apaixonar!

A uma criança,

dar-lhe-ia asas,

mas teria de aprender

a voar sozinha.

Aos velhos

ensinar-lhes-ia

que a morte não chega com a velhice,

mas com o esquecimento.

Aprendi que um homem só tem direito a olhar outro de cima para baixo quando vai ajudá-lo a levantar-se...

Tantas foram as coisas que aprendi com vocês, os homens !

Aprendi que todo o mundo quer viver em cima da montanha, sem saber que a verdadeira felicidade está em subir a encosta...

Aprendi que, quando um recém-nascido aperta,

com a sua pequena mão, pela primeira vez,

o dedo de seu pai,

o tem agarrado para sempre.

São tantas as coisas que pude aprender com vocês, mas não me irão servir realmente de muito, porque, quando me guardarem dentro dessa maleta, infelizmente

estarei a morrer...”

16 dezembro 2008

Tudo o que acontece na sua vida tem um significado,
coincidências podem ser desde avisos do seu anjo da guarda
até “toques” de Deus para você seguir a sua “lenda pessoal”.

11 dezembro 2008

Porque eu sou do tamanho do que vejo, e não do tamanho da minha altura...

Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo...
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não, do tamanho da minha altura...

Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe
de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos
nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.

Alberto Caeiro